O mercado de trabalho refletiu, de forma severa, o cenário de dificuldades enfrentadas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Em dois meses (março e abril), o País contabilizou a perda de 1,101 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. Com esse resultado, o Brasil acumula, nos primeiros quatro meses do ano, uma queda de 763 mil vagas formais, pior resultado observado desde 2010, conforme informação disponível pelo novo Caged.
Os dados do Caged, no período de janeiro a abril de 2020, foram divulgados nesta quarta-feira (27) pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. Até então, as últimas informações disponíveis eram relativas ao mês de dezembro de 2019. No mesmo período do ano passado, foram contabilizadas 313.835 novas vagas.
A economista do Banco de Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos, ressalta que os resultados demonstram o forte impacto da crise econômica que se instalou no País em função da pandemia. A construção civil perdeu 15,6 mil trabalhadores formais em março e 66,9 mil em abril, ou seja, acumulou em dois meses a perda de 82,5 mil vagas formais.
Como os resultados do primeiro bimestre do ano foram positivos, o setor contabiliza, no período de janeiro a abril, um saldo negativo de 21,84 mil trabalhadores, resultado da admissão de 481.889 pessoas e da demissão de 503.726. O número de trabalhadores com carteira assinada na construção, em todo o País, passou a ser de 2,145 milhões.
“A análise de grandes setores (Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, Indústria Geral, Construção, Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas e Serviços) nos meses de março e abril permite verificar que a construção obteve o segundo melhor resultado, ficando atrás somente da Agricultura”, menciona Vasconcelos.
“Os números revelam que a construção, por ter mantido as suas atividades em quase todo o País, mesmo após o agravamento da crise econômica na segunda quinzena de março, conseguiu manter importantes postos de trabalho, apesar de também ter sentido os reflexos da crise. Em abril todos os estados registraram saldo negativo na geração de vagas da construção, com destaque para São Paulo (-15.644), Minas Gerais (-8.954), Rio de Janeiro (-7.948) e Bahia (-5.585).
Deve-se ressaltar que, em 2019, esses estados possuíam o maior número de trabalhadores no setor.
“O cenário reflete a importância da construção civil para a economia nacional. Diante de uma intensa deterioração no mercado de trabalho, o setor, conseguiu evitar ao máximo as demissões. As perdas observadas demonstram que o setor sente os efeitos da crise, mas está buscando ao máximo manter postos de trabalho”, avalia a economista.
Além disso, levantamento feito pela CBIC, com os dados do Caged, permite verificar que o número de vagas perdidas na construção, no primeiro quadrimestre de 2020, é inferior ao observado em anos recentes (2015,2016 e 2017), quando o setor enfrentou uma das suas maiores crises. Evidenciam, ainda, que foi interrompido o processo de geração de emprego observado nos dois últimos anos neste período.
Conforme informações do novo Caged, a construção civil conseguiu preservar 202 mil postos de trabalho com a utilização de medidas do Programa Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda. Em todo os setores de atividade foram preservados 8,1 milhões de empregos.