1 – Em 2020 o mundo está passando por uma metamorfose pandêmica, em meio a cicatrizes, mortes e reinvenções para sobreviver ao caos na saúde e na economia, atualmente. Qual o humor dos empresários da indústria diante de tantas ações de isolamento social, que atingem diretamente à produção?
Resposta:
A gravidade da crise impõe aos empresários brasileiros e maranhenses grande preocupação. O isolamento social representa uma barreira entre o consumidor e os produtores ou comerciantes, quebrando um fluxo vital para a economia. O isolamento social leva à queda de consumo, de renda, de emprego, de oferta de produtos e, se esse momento se alongar muito, leva ao desabastecimento. Numa realidade como a brasileira, com um setor informal gigantesco, onde milhões de pessoas trabalham hoje para comprar a comida diária, isolamento social é uma barreira condenatória. Apesar de tudo, o ânimo dos empresários é alimentado de esperança, esperando que tudo isso vai passar. Toda incerteza tem começo e fim.
2 – O senhor, além de presidente da Fiema, também é membro da Confederação Nacional da Indústria, portanto, convive mais de perto com os solavancos sofridos pela indústria brasileira durante a crise do convid19, pode se projetar 2020 um ano perdido?
Resposta:
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou recentemente um estudo no qual são projetados três cenários para 2020, sendo que, no mais provável, é projetada uma queda de 4,3% no PIB total e de 3,9% no PIB industrial. E isto pressupõe que a crise sanitária esteja inteiramente controlada no início do segundo semestre. É um impacto muito grande, mas não considero um ano perdido, porque o agronegócio continua gerando resultados econômicos e alguns segmentos industriais se mantêm em atividade. Teria sido um ano completamente perdido se as políticas de auxílio econômico e financeiro não tivessem sido adotadas em tempo hábil, logo no início, o que ajudou a manter algum nível de demanda de consumo e impedindo a expansão da insolvência e maior fechamento de empresas.
3 – Em 2019, o Brasil teve um pibinho mixuruca de 1,1%, na visão do setor industrial qual seria a projeção mais plausível para 2020, diante do impacto da convid19?
Resposta:
O crescimento do Produto Interno Bruto à taxa de 1,1% é realmente muito baixo para as economias que pretendem ser grandes e fortes. Mas, é bom não esquecer que esse era o terceiro índice positivo de crescimento da economia nacional depois da situação recessiva em que as gestões anteriores deixaram o país. Sair do fundo do poço é não é tão fácil como se imagina. Lamentavelmente, a Covid-19 chegou arrebentando tudo num momento que a economia começava a estruturar-se, com o emprego e o nível de atividades em expansão. Nas circunstâncias atuais, seria motivo de festejo um crescimento de 1,1% no PIB, o que, infelizmente, não será possível.
4 – O Maranhão possui uma indústria diferenciada, principalmente nas áreas de minero-metalúrgica, e outras, mas sempre voltada para a exportação (Vale, Alumar, Suzano, etc), em que nível esses setores foi atingido pela presente crise?
Resposta:
As grandes empresas, principalmente aquelas que têm turno de trabalho ininterrupto, continuaram em plena atividade, mas como a pandemia é global as relações comerciais foram afetadas, com queda de demanda e de preços internacionais, dependendo da natureza da empresa. Aquelas que produzem itens essenciais foram menos impactadas.
5 – Um dos setores que alavancou a economia do Ceará foi a indústria de confecções, mas no Maranhão esse segmento não consegue avançar, mesmo com condições propícias e a produção de algodão de alta qualidade. Por que isso ocorre?
Resposta:
A retomada da produção de algodão no Maranhão ainda é recente e acontece num período em que não se tem indústria têxtil. A planta industrial é fundamental porque não se produz confecção se não tiver o tecido. O algodão sozinho não faz crescer a indústria de confecções. O Ceará, diferentemente, consolidou sua indústria de confecções ao longo de muitos anos, disseminada em pequenas unidades dispersas em vários municípios e assim mesmo antes que as produções internacionais de mais baixo custo e de menor qualidade, inibissem a produção. Hoje, o Maranhão precisa importar até linha e isto torna o custo mais elevado.
6 – O que falta ao Maranhão para se tornar um centro industrial, aproveitando a sua situação geográfica, o complexo portuário e uma população acima de sete milhões de habitantes?
Resposta:
É preciso que se defina de qual tipo de centro industrial se está falando. Ao se destacar a situação geográfica e o complexo portuário, será que estamos falando somente de indústrias para exportação? Se assim for, é necessário que se busquem investimentos na formação dos elos que compõem cada uma das cadeias produtivas formadas por essas indústrias, incluindo toda a rede de fornecedores até a terceira geração, algo, por exemplo, que não se fez nestes 50 anos da presença da indústria de alumínio no Maranhão. Falar num centro industrial, baseado na indústria aeroespacial apenas pressupõe a realização, antes, de uma série de investimentos estruturantes, tanto em termos de transportes quanto de logística, além de intenso programa de qualificação profissional. Qual seria a capacidade de internalização de rendas no estado? Falar em centro industrial é desenvolver uma base de desenvolvimento tecnológico e de inovação, desenvolver cadeias produtivas reais e efetivas, e, principalmente, desenvolver cadeias produtivas regionalmente interligadas, que contemplem produtos voltados para a demanda expressa pelo tamanho populacional do estado. Mas, falta planejamento e decisão política para que possamos criar ambiente institucional confiável para investimentos.
7 – O setor industrial do Maranhão tem tido uma relação de diálogo, plena cooperação e compartilhamento de ações com as autoridades do governo estadual, o que isso reflete nos resultados concretos da produção?
Resposta:
O Conselho Empresarial do Maranhão (CEMA) foi criado, por inspiração da classe empresarial, para que esse diálogo fosse estreito, permanente e produtivo para o desenvolvimento do estado. Defendemos, sempre, uma boa parceria entre os setores público e privado como um caminho, hoje cada vez mais frequente nos países, para a viabilização de políticas econômicas que atraiam grandes empreendimentos. O setor privado quer ser parceiro do governo, compartilhando ações, o que implica mão dupla de tráfego institucional. A parceria perfeita implica em ouvir quem produz e gera renda.
8 – O que falta no Maranhão para que sua economia dê uma arrancada, aproveitando todo o potencial disponível?
Resposta:
Falta um planejamento de estado, não de governo. Um planejamento global e setorial bem concebido, estratégico, de longo alcance, não imediatista para situações esporádicas. É necessário que se identifiquem as reais potencialidades, quem podem ser os prováveis investidores e que tenhamos a infraestrutura econômica e social que dê suporte às necessidades desses investimentos. Por exemplo, como atrair investimentos para regiões em que não dispõe de internet de banda larga estável e confiável? Onde a infraestrutura de saúde é precária? Falta melhor organização do sistema produtivo estadual.
9 – Qual será, em sua opinião, o cenário econômico do pós-crise do coronavírus no Maranhão?
Resposta:
Um cenário de muita dificuldade, com várias micro, pequenas e médias empresas fechadas e um grau elevado de insolvência ou inadimplência. Elas representam mais de 90% d capacidade industrial produtiva do nosso estado. A indústria da construção, que já vinha passando por altas e baixas, estará na dependência de quais medidas o setor governamental adotará como instrumentos de retomada da atividade produtiva. O agronegócio deverá manter taxa de crescimento próxima dos 10% em 2020, mas as atividades industriais, principalmente de transformação, sofrerão os impactos da Covid-19. O comércio e os serviços precisarão ser reinventados, buscando novas alternativas da aproximação com os consumidores. A concentração do governo em obras de infraestrutura pode ter impacto muito positivo para acelerar a economia.
10 – As crises políticas entre poderes da República atrapalham a confiança dos empresários e os investimentos industriais no Maranhão, como, por exemplo, a construção do Porto São Luís?
Resposta:
O que atrapalha a construção do Porto São Luís não são crises políticas entre os poderes da República, mas um jogo de interesses locais que envolvem questões ambientais em uma disputa que não tem vencedores ou vencidos.