Dados do Produto interno Bruto (PIB), divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, indicam que a economia brasileira teve uma retração de 1,5% no primeiro trimestre de 2020, na comparação com último trimestre do ano passado. O resultado veio em linha com a expectativa do mercado, que projetava queda de 1,5%, segundo a Bloomberg.
Na comparação com igual período de 2019, a queda foi de 0,3%. O PIB é o conjunto de todos os bens e serviços produzidos pela economia.
O resultado do primeiro trimestre é a ponta do iceberg do que os economistas estimam ser a pior recessão econômica em 120 anos, quando começa a série histórica do IBGE. Isso porque as medidas de isolamento social foram adotadas apenas em meados de março.
A queda do primeiro trimestre deste ano interrompe a sequência de quatro trimestres de crescimentos seguidos e marca o menor resultado para o período desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%). Com isso, o PIB está em patamar semelhante ao que se encontrava no segundo trimestre de 2012.
Serviços têm maior retração em 12 anos
O que pesou para a retração nos três primeiros meses deste ano foi o setor de serviços, que registrou queda de 1,6% contra o trimestre anterior. Este setor representa 74% do PIB, pela ótica da oferta. É a maior queda do setor de serviços desde a crise global de 2008. No quarto trimestre daquele ano, a queda foi de 2,3%.
Os efeitos da pandemia também influenciaram a queda de 2% no consumo das famílias, que representa 65% do PIB, pela ótica da demanda. Esta é a maior queda desde o terceiro trimestre de 2001, quando o Brasil passava por uma crise do setor elétrico. Naquela data, o recuo tinha sido de 3,1%.
— A queda do consumo das famílias está atrelada à queda dos serviços. Com o distanciamento social em março, muitas atividades como cinema, academias, restaurantes e outros foram fechados, e os serviços pesam cerca de metade de tudo que as famílias consomem — destaca Rebeca Palis, coordenadora de contas trimestrais do IBGE.
Participação da indústria no PIB é a menor da série
Assim como o setor de serviços, também a indústria registrou queda na produção, de 1,4%. Com isso, o setor viu sua participação no PIB cair ainda mais. A indústria no primeiro trimestre de 2020 respondeu por 20,9% de tudo o que foi gerado de riquezas no país – é o menor patamar da série histórica. Em 2005, o peso da indústria chegou ao auge de 28,5%.
Por outro lado, os investimentos tiveram alta de 3,1% no 1º trimestre, revertendo a queda registrada no trimestre anterior (-2,7%), mas parte dessa alta foi meramente um ajuste estatístico.
Segundo Rebeca Palis, o aumento dos investimentos foi influenciado por dois fatores: a chegada de novos projetos e a contabilização de recursos destinados a plataformas, dentro do programa Repetro, regime aduaneiro especial que facilita a importação de bens destinados à exploração de petróleo.
A taxa de investimento foi de 15,8% do PIB, acima do observado no mesmo período de 2019 (15%), mas ainda bem abaixo do patamar acima de 21% registrado em 2013. Já a taxa de poupança foi de 14,1% no primeiro trimestre de 2020, ante 12,2% no mesmo período de 2019.